Há nas relações humanas duas categorias bem distintas que são as relações afetivas e as profissionais. Nas primeiras não se mede valores, há uma liberdade para uma série de tratativas e não se cobra tanto dos demais por aquilo que vem do coração. Não há como cobrar pelo afeto dispendido. Já nas relações profissionais os combinados são exatamente complementares a estes. Há deveres e direitos bem estabelecidos. Não se espera de um colega de trabalho as mesmas liberdades que se tem com os amigos, e da mesma forma, as pessoas se preparam para as reuniões familiares de um jeito distinto do modo como são feitas as reuniões com parceiros de negócio.
Na delicada relação entre a família e a escola em geral isso não é bem trabalhado. E vem daí muitas das faíscas que machucam a ambas as partes. Ressentimento, mágoa, sentimento de menos-valia, conflitos, grupos de Whatsapp desaforados. Muito disso pode ser evitado com um contrato mais claro de deveres e direitos entre ambas as partes.
A ilusão do óbvio machuca as relações humanas fazendo com que uma das partes espere da outra o que ela não sabe, não pode ou não quer dar. Por exemplo, numa reunião a professora de matemática diz para uma mãe: “Sua filha não se concentra nas aulas, você precisa dar um jeito”. Neste caso parece óbvio que os professores esperariam dos familiares que eles magicamente tomassem alguma atitude, que resolvessem o problema. Mas como fazer isso? Será que os pais saberiam o que fazer? Em geral não. Daí vem boa parte do distanciamento casa-escola. Diversos estudos internacionais sobre o tema indicam que ambas as partes acabam esperando da outra algo que não acontece e no lugar disso cria-se o ressentimento. E a distância.
Se queremos formar alunos com atitudes empreendedoras precisamos todos praticar isso em nosso cotidiano. No lugar de simplesmente informar a uma mãe que a filha dela está falhando em algo, a professora empreendedora poderia adotar a fala: “A Victoria(chamando a aluna pelo nome, mostrando que se importa com ela) não tem se concentrado nas aulas (indicando que entende este comportamento como algo situacional que pode mudar), então queremos contar com você (numa mostra clara de almejar uma parceria) para adotarmos juntas algumas ações(novamente ao usar a expressão adotarmos juntas ressalta-se a união casa-escola e com dicas de concentração que possam ser treinadas em casa, livros sobre o assunto para os pais estudarem ou sites onde hajam dicas úteis sobre o assunto há um sentido resolutivo para aquela reunião). Este tipo de postura empodera o educador e ao mesmo tempo o coloca num papel inspirador, fortalecendo a aliança e mostrando caminhos.
Nos dias atuais em que os níveis de narcisismo e individualismo alcançam proporções alarmantes, é cada vez mais importante que as relações sejam aclaradas para que o andamento escolar e mesmo o rendimento cheguem em patamares elevados. Boa parte do que um aluno apresenta no cotidiano escolar tem a ver com a qualidade das relações entre a família e a equipe escolar.
Isso nos leva a uma importante lição de casa: capacitação em comunicação humana. Nem sempre as famílias não ajudam por que não querem. Nem sempre os pai se afastam por que não tem interesse. Muitas vezes eles não tem consciência sobre o impacto de suas ações. Nem sempre eles sabem o que fazer com as informações que recebem nas reuniões e se sentindo desempoderados e desnorteados acabam, conscientemente ou não, se afastando.
Algumas atitudes podem ajudar neste sentido. A primeira delas é uma reflexão honesta por parte do corpo gestor sobre a importância da participação dos pais na vida escolar. Há uma infinidade de estudos corroborando esta relevância.
Tomada a decisão de ter pais parceiros é preciso criar uma formação com os profissionais da escola com a finalidade de debater estratégias eficazes de condução das comunicações. Abaixo algumas dicas que podem ajudar:
- Informes que sejam enviados por diversos meios (email + whatsapp + impressos + jornal da escola + site + redes sociais + mural + outros) tem mais chances de alcançar resultados do que somente escrever no site da escola sobre um evento.
- Considere seriamente realizar treinamentos sobre comunicação com temas relacionados:
*Reflexões sobre o valor da parceria com a família, reforçando o senso de comunidade, de cumplicidade e de coletividade, além dos ganhos a todos.
*Saber falar claro sem jargões técnicos.
*Carisma
*Assertividade
*Benefícios de comunicar primeiro as coisas boas para que em seguida se fale das dificuldades
*Simulações de posturas funcionais e disfuncionais na comunicação
*Escuta empática
*Simular troca de papéis
*Noções essenciais sobre causas, consequências e tratamentos das principais dificuldades de aprendizagem
*Oferecer conhecimentos sobre fases do desenvolvimento
Todas estas sugestões e outras temáticas que o grupo escolar sinta necessidade pode fazer parte de um calendário de formações que pode ser feito com leituras, filmes, palestras, estudos de caso e com participações dos próprios professores
Texto: Leo Fraiman | Foto: Pix